quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O prisioneiro das sombras

Eu me olhava no espelho e não conseguia gostar de nada que via. O espelho refletia todos os meus defeitos, aqueles que eu não queria ver, aqueles que eu escondia embaixo de tecidos e mais tecidos. O rosto que eu escondia por trás daquela franja e daqueles óculos. Parecia que  o verdadeiro eu, trancado numa masmorra dentro de mim mesma agora se debatia mais do que nunca, implorando para ser libertado. O eu que há anos eu poupava das pessoas, da família, do mundo, com medo de que ele fugisse de dentro de mim e arruinasse tudo lá fora. Foi esse medo que o manteve prisioneiro dentro de mim própria. Ele gritava por socorro , e eu sufocava os gritos com músicas que escorriam cínicas pelos meus lábios. Ele chorava, e eu prendia as lágrimas por detrás de um sorriso inquebrantável. Ele tinha os piores pesadelos, enquanto eu fingia sonhar e realizar essas mentiras. 24 horas por dias não era eu mesma, mas um fantoche das outras pessoas e da sociedade visceral em que eu habitava. Nos minutos que ninguém via, essa parte mais sombria de mim mesma me questionava se isso era o certo, e eu tapava os meus ouvidos e a minha boca para não ter que respondê-lo que ele estava certo. Esse eu morava dentro de mim como uma sombra que eu queria que sumisse, mas na verdade, eu fui essa sombra durante todo esse tempo e só ia deixar de ser, quando aceitasse receber aqueles raios de sol tão vívidos que temi outrora. Eles eram quentes e podiam cegar, mas jamais me deixavam mentir sobre mim mesma, pois iluminavam toda a face presa na penumbra.

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