Eu vejo na escuridão
Sombra que me assusta
Ouço no silêncio
Vozes taciturnas
Mas o que mais me assusta
Nesta noite
Não é enxergar
Coisas que não existem
Mas é não encontrar nada
Dentro de mim mesmo.
É observar vultos negros
Que minha mente
Doente, cria
Descobrir que não há pensamentos
Sejam eles lógicos ou não,
Assumir, apenas, que esta mente entorpecida,
Desvaria.
Entorpecida da realidade
E não de um filme de horror
Pois o filme acaba
Enquanto esta
realidade
Me persegue, prende
Me suga...
Suga a essência real
Da verdadeira vida
Vida, escondida
Entre a sombra dos mortos
Mortos, antigos ideais
Cadáveres cinzentos e frios
De esperanças pueris
De uma revolução que nunca aconteceu
Fora dos arredores da minha mente
Fora do mundo ideal da imaginação
Mas ficou presa
Enclausurada
No calabouço das ilhas do meu coração.
Somos quem o mundo pensa que somos?
Ou às vezes somos apenas nós mesmos?
Com esses olhos que vejo o mundo, ele me parece
nada mais do que uma neblina branco acinzentada em continuo movimento. A vida
por si só é solitária e indecisa. Somos um caminho mas não a chegada.
Jamais vamos ser a chegada enquanto não definirmos as rotas por onde corremos a
partir do ponto de partida . Temos em nós todos os sonhos do mundo, eu sei, eu
sinto. Mas ao mesmo tempo, parece que para alcancá-los nos fragmentamos,
deixando um pouco de nós em cada estação... E esse pouco muda um pouco de alguém
. Enquanto isso, levamos de quem nos doamos, lições e experiências. Roubamos um
pouco deles , e guardamos em nós mesmos , debaixo da pele. As estações
prosseguem, e o trem não deixa de correr pela estrada sinuosa e nublada que é o
mundo. Como ver a partir dessa neblina e projetar o futuro é a questão.
Se não sabemos nem mesmo o ponto de partida que é qualquer momento do hoje ,
fica difícil. Porém, se temos dentro nós o mínimo indicador e perseguimos
aquele sonho, ou aquele ideal, talvez... Só talvez essa neblina se torne menos
espessa . A neblina é feita dos nossos medos e inseguranças que se nebulizam
defronte de nós . Vencê-la significa nos tornarmos mais como nós mesmos, e
menos como todos querem que sejamos. Aceitar o que temos de melhor, e melhorar
o que temos de pior. Talvez a vida seja esse constante aprimoramento.
Eu era uma canção fragmentada
Com notas cadentes
Voando nas pautas
Lá fora milhões de casas amontoadas,
Milhoes de lares abandonados,
Pequenos pontos de luz,
Na noite devassa
Sendo o menor dos espaços o coração,
Brincavam com ele,
Como se gira um peão,
Ecdise
Eu queria trocar de pele
Assim como troco de roupa
Queria fugir de mim mesma
Como um animal cativo em fuga,
À solta
Eu queria crescer
E não me sentir tão pequena
Tornar me estável, plena
Local onde bons sentimentos
Fizessem eterna morada
Eu queria ter o colo
De qualquer um,
E a todo momento,
Não ser esse turbilhão de sentimentos
Em que a angustia é companhia comum
Eu queria ter a pira perfeita,