domingo, 23 de dezembro de 2018


Reveillon para 64

“Eu vejo a vida passar como imagens rápidas, projetadas da janela de uma condução qualquer. A condução que me leva por um caminho sinuoso e sem volta, pela eternidade impossível de palpar, que dura um milissegundo. Prendo então os cachos dos meus cabelos, que brincam nas laterais da face, atrás de orelhas ávidas para ouvir o som que deixou de ecoar no mundo.  Quando ele desapareceu? Hoje, visto antes de sair, uma pele que não é minha, buscando resistir ao tempo que não está bom; paradigmas e tabus mortos voltam a me afligir. Por olhos de vidro, paralisados, observo já sem ação, a imutabilidade da ignorância humana, pois as minhas retinas já se cansaram de registrar uma realidade cinza, que cresce defronte de mim, perpassa tudo, e descolore prédios e praças, condomínios, casas enquanto lá fora, crescem as massas , arrebanhadas por um louco que arrasa , quaisquer locais habitados por opiniões. Hoje, a regressão deixa de ser um método de psicanálise, e torna-se a realidade ressurgente e palpável de um país sem memória, que mesmo agonizando ignora, o temível passado que o assolou outrora."  

Nenhum comentário:

Postar um comentário