Reveillon para 64
“Eu vejo a vida passar como
imagens rápidas, projetadas da janela de uma condução qualquer. A condução que
me leva por um caminho sinuoso e sem volta, pela eternidade impossível de
palpar, que dura um milissegundo. Prendo então os cachos dos meus cabelos, que
brincam nas laterais da face, atrás de orelhas ávidas para ouvir o som que deixou
de ecoar no mundo. Quando ele
desapareceu? Hoje, visto antes de sair, uma pele que não é minha, buscando resistir
ao tempo que não está bom; paradigmas e tabus mortos voltam a me afligir. Por
olhos de vidro, paralisados, observo já sem ação, a imutabilidade da ignorância
humana, pois as minhas retinas já se cansaram de registrar uma realidade cinza,
que cresce defronte de mim, perpassa tudo, e descolore prédios e praças,
condomínios, casas enquanto lá fora, crescem as massas , arrebanhadas por um
louco que arrasa , quaisquer locais habitados por opiniões. Hoje, a regressão
deixa de ser um método de psicanálise, e torna-se a realidade ressurgente e palpável
de um país sem memória, que mesmo agonizando ignora, o temível passado que o
assolou outrora."
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